Policial escritor acredita que segurança pública começa na educação
Luís Fernando Rodrigues dos Santos é terceiro-sargento da Polícia Militar e escreve para mostrar aos jovens que a literatura é melhor do que as armas
Foi no bairro do Pilar, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense do Rio, que o policial militar Luís Fernando Rodrigues dos Santos, de 42 anos, cresceu. Com uma infância marcada por dificuldade financeira, Luís encontrou refúgio nos livros que seu tio, sociólogo, dava de presente. Há 16 anos na corporação, o terceiro-sargento passou a escrever como uma forma de escape e, também, para influenciar os jovens da periferia à literatura ao invés das armas. Hoje, ele tem três livros escritos, sendo dois deles publicados.
“Ele foi proibido de trabalhar e ficou muito tempo sem receber e minha mãe não trabalhava. Foi um período muito difícil para a gente. Depois, com um tempo, quando ele conseguiu os direitos dele, ela fez um concurso para merendeira do estado e passou”, disse Luís. “A gente passava muito aperto na infância, muito mesmo. Eu costumava ir para o Ciep e passar horas na biblioteca porque tinha acesso a todos os tipos de livros”, completou.
Luís começou a trabalhar muito novo, dentro do seu próprio bairro. Com a falta de água na região, ele abastecia recipientes e baldes e levava para as pessoas. Depois, trabalhou em uma empresa de ônibus por um tempo. “Meu tio sempre quis que eu fizesse concurso. Eu via muitos policiais, prestava atenção em como eles viviam e passei a me interessar. Fiz amizade com alguns, que me apoiaram a realizar a prova. Comecei a estudar e passei”, explicou.
Em seu primeiro livro de ficção chamado “O Protegido”, de 2020, Luís fala sobre o mundo pós-apocalíptico e como será a Terra após o juízo final. Além disso, ele também aborda as consequências de atos impensados e fala sobre a lei do retorno.
“Eu falo neste livro sobre o que a gente faz e tudo que pode vir decorrente das escolhas que tomamos. Nele eu tento mostrar que nunca é tarde para se arrepender”, explicou. O policial sentiu a necessidade de criar histórias para que outras pessoas se interessassem a ler, assim como ele, ficção. “A história ainda não terminou, é uma trilogia. Há pouco tempo terminei a segunda edição, que já está com a editora para revisão”, completou.
Policial que cresceu lendo em bibliotecas, escreve livros para escape de rotina
“Ser policial é muito complicado. Quando eu comecei a escrever, foi uma forma de tirar um pouco o pensamento do trabalho. Nós ficamos 24 horas embaixo de tensão, com riscos de ir na rua e poder ser reconhecido, sofrer tentativa de assalto e reagir. É difícil”, disse. “Eu recebo muito apoio dos meus colegas de trabalho. Eles estão sempre me incentivando a continuar. Já fiz até tarde de autógrafos no batalhão para os meus amigos”, concluiu.
“A segurança pública está atrelada a educação, assim como a saúde a saneamento básico. Estou há 16 anos na polícia e já presenciei muitos confrontos. Vejo traficantes perderem a vida, policiais e até inocentes. A criminalidade nunca cessa, só oscila”, explicou. “Na verdade, a educação pode resolver esse problema da criminalidade. A gente precisa educar os nossos filhos, porque dando exemplo em casa, eles não vão fazer na rua. Se eu conseguir atingir esses jovens, ajudar eles com um hábito de leitura, já fico feliz”, completou.